Criar-pintar como gesto de resistência e protagonismo
- jurigol
- 1 de jul.
- 3 min de leitura
Uma convocação sensível às mulheres que desejam elaborar o mundo por meio da autoexpressão
Pintar não é apenas produzir uma imagem aleatória.
É instaurar um campo de pensamento sensível, onde o gesto emerge como linguagem primeira.
Cada traço é vestígio de uma investigação interior — uma forma de pensamento que não se enuncia em palavras, mas em matéria, cor e presença.
A tela, em sua aparente neutralidade, é território de insurgência.
Ela nos devolve perguntas que raramente ousamos formular:
O que inibe minha criação espontânea?
Quais dispositivos me condicionam, agora, sem que eu os perceba?
O ato de pintar desloca a consciência para o presente absoluto.
É nesse atravessamento — entre o íntimo e o político, o visível e o inconsciente — que a criação se torna um gesto de restituição da própria autonomia.
Não se trata de alcançar um resultado estético, mas de ativar um espaço de elaboração onde o sujeito se reconfigura.
A prática pictórica, quando desatrelada das expectativas normativas, opera como contranarrativa à colonização da sensibilidade.
É um modo de reapropriação simbólica do corpo, da imaginação e da voz — domínios historicamente interditados às mulheres e aos dissidentes da norma.
Pintar, assim, torna-se um enfrentamento micropolítico:
um exercício de descondicionamento, onde se tensionam as forças que nos silenciam, nos domesticam, nos mantêm legíveis segundo códigos hegemônicos.
A linguagem pictórica, justamente por sua ambiguidade e resistência à captura discursiva, escapa às formas de controle instituídas pela moralidade patriarcal, racionalista e colonial.
É um gesto que refuta a transparência da linguagem verbal, propondo em seu lugar uma poética da opacidade — onde desejo, memória, fúria e erotismo se entrelaçam sem pedir permissão.
Pintar é produzir fenda no regime de visibilidade dominante. É afirmar a legitimidade da subjetividade como campo de criação e dissenso. É reintegrar aquilo que a modernidade separou violentamente: razão e pulsão, forma e afeto, estética e existência.
Nesse processo, a pintura deixa de ser um fim em si e passa a operar como dispositivo ético e político.
Ela convoca uma arte que não se submete à função decorativa nem ao espetáculo: mas que insiste, que transborda, que se afirma como presença indomesticada.
Investigo, através da autoexpressão pictórica, o feminino como território de complexidade e subversão —
não como essência, mas como potência de ruptura.
Pintar é, para mim, um modo de resistir à fragmentação imposta.
De pensar com o corpo.
De produzir mundo desde a carne.
Seja bem-vinda.
Este é um espaço que pulsa à margem do ruído.
Uma travessia dedicada às mulheres que pensam com o corpo, que sentem com a linguagem, que desejam com a matéria.
Nossa newsletter nasce como uma correspondência sensível — uma troca íntima e coletiva — entre aquelas que escolhem a criação como forma de elaboração do mundo, como recusa ao silenciamento e como gesto de protagonismo.
Aqui, a pintura não é ornamento, nem ilustração:
é ferramenta de autoinvestigação, território de resistência e exercício de liberdade.
Cada edição será uma convocação: a mergulhar no gesto, a habitar o entre, a tensionar os limites do visível e a reinscrever presença onde antes havia ausência.
Este espaço é teu —
para criar, para sentir, para pensar fora dos contornos pré-estabelecidos.
Para ocupar o invisível com imagens que não pedem licença.
Obrigada por se juntar a este percurso.
Que ele nos fortaleça, nos atravesse e nos transforme.
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